O Mirante do Paiva é o de mais fácil acesso, a 4 km da principal via da Vila de Tepequém.
Considerada um “acidente geográfico”, a Serra do Tepequém, no município de Amajari, em Roraima, possui os contrastes perfeitos para colocar corpo e mente em sintonia com a natureza. A aproximadamente 210 km de Boa Vista, é o refúgio ideal para descansar, divertir-se ou simplesmente curtir a paisagem do alto, em alguns pontos a mais de 1.000 metros de altitude (para se ter ideia do que isso significa, a capital roraimense está aproximadamente 90 metros acima do nível do mar). Não à toa os mirantes estão entre os seus principais atrativos: eles entregam vistas de tirar o fôlego.
Um deles está bem perto da vila de Tepequém, com acesso pela principal via do vilarejo, onde estão uma escola pública, uma unidade básica de saúde e até um minúsculo imóvel da principal rede de televisão do norte do país. Ao fim da pista, após esses equipamentos, é só atravessar uma pequena ponte de madeira e seguir poucos minutos numa estrada de terra batida até chegar no Mirante do Paiva (gratuito), a mais de 200 metros de altura, de onde se pode - em segurança e sem desafiar a natureza - apreciar do alto a Cachoeira do Paiva, cercada por um “manto verde”, que Moisés, meu pequeno aventureiro de 5 anos, chamou de “muitos brócolis” na floresta.
Essa foi a primeira impressão que Zezé, como o chamamos, teve na nossa segunda ida ao mirante. Na primeira tentativa, o tempo encoberto entregou um quadro em branco: demos de cara com uma neblina, que não nos possibilitou ver a paisagem, mas permitiu imaginar como ela seria. Não se frustre se ocorrer o mesmo. A cerração é só uma maneira que o tempo usa para entregar uma nova tela. Num dia azul, prepare-se também para curtir a revoada de um casal de araras vermelhas, estando acima delas. E anote essa dica: deixe para ir a esse atrativo ao fim do dia.
Outro local elevado para apreciar (e aplaudir muito!) o pôr-do-sol é o Mirante Mão de Deus (R$ 150*), um dos mais famosos da Serra não à toa. As imagens entregam o porquê: do alto da formação rochosa, que lembra uma mão, se descortina um horizonte incrível e nos faz refletir sobre a nossa pequenez em meio àquela imensidão verde e azul, tingida de tons alaranjados com o entardecer. Para chegar até ele é preciso seguir o caminho que leva ao Mirante do Paiva, mencionado antes. Ali perto, há um estacionamento identificando os atrativos daquela área e onde é possível deixar o veículo em segurança.
Há várias setas pintadas nas rochas indicando o caminho até a Cachoeira do Paiva. Porém, ao invés de seguir pela escadaria que leva a uma das quedas d'água mais impressionantes da Serra, tome a trilha à esquerda dela e siga até a corredeira, onde é possível fazer a travessia em segurança, a depender do nível da água. No local, há uma corda ligando as margens, usada como apoio. Se o volume d'água estiver alto, evite atravessar. Com água até a altura dos joelhos, seguimos seguros para o trecho mais exigente: uma subida cansativa, íngreme e em grande parte do trajeto sobre rochas. Certeza que você vai esquecer tudo isso quando der de cara com a vista recompensadora da planície! A altura e a grandeza do lugar, de início, assustam, mas quando os suspiros e os muitos "uaus" foram ficando mais compassados, aproveitei para agradecer muito pela oportunidade daquela experiência ao lado dos meus.
Mais fôlego só se perde mesmo, literalmente, em um dos programas mais intensos da região: o trekking pelo Platô do Tepequém (R$ 200*), cujo cume chega a 1.022 metros de altitude e entrega outro horizonte marcante da Serra. O ponto de partida rumo ao topo é ao lado de uma propriedade privada, a 3 km do vilarejo. O ideal é fazer esse programa bem cedo, logo no início da manhã, pois são quase 5 km de caminhada até o ponto mais elevado. Iniciamos o trekking pouco antes das 9h - devíamos ter saído bem antes! - e fizemos esse trecho em duas horas e meia, com leves pausas para descanso, tomar uma água ou recuperar o fôlego.
Após uma trilha cansativa, deixe fôlego para muitos "uaus" no topo do Platô do Tepequém.
Quem tem costume de fazer esse tipo de programa pode cumprir essa etapa em menos tempo. No nosso caso, Zezé ditou um pouco o nosso ritmo e aproveitou a jornada. No início do caminho, a trilha é ladeada por arbustos e, com muitas, muitas pedras, o que exige do trilheiro mais atenção. Mas, aos poucos o Tepequém vai revelando seus tons de verde e suas águas: uma corredeira leve logo na primeira hora de caminhada e uma fonte natural próxima à chegada são paradas obrigatórias, pois ajudam a refrescar e manter o ânimo.
A trilha pelo platô é bem cansativa, por isso não recomendo para quem não curte a experiência do trekking ou para quem não faz atividades físicas regulares. Ao fim, além da distância percorrida, vencemos também mais de 300 metros de altitude de diferença em relação à largada. No topo, se der sorte, como a gente, ainda pode apreciar o voo rasante de uma águia, enquanto ela plana sobre um manto verde. Depois de curtir a vista e descansar enquanto recarrega a “bateria”, uma coisa posso garantir: a volta é muito mais fácil! No Tepequém, é só curtir o caminho.
* Fizemos os passeios com a Tepequém Aventura e Turismo, da guia Shâmara Saraiva. Os preços mencionados são por atrativo e para um grupo de até 5 pessoas.
ANOTE AÍ!
Quando ir:
Em Tepequém há duas “estações” bem definidas: a chuvosa (abril a agosto, com chuvas mais intensas em junho) e a seca (setembro a março). No pico do período chuvoso, as quedas d’águas são mais volumosas e podem ser mais perigosas. Os dias também podem ser mais fechados, nublados e até com cerração, porém a temperatura fica muito agradável e há poucos visitantes nos atrativos. Clima ideal para descansar na Serra! Não foi o que fizemos (risos!): conhecemos a Serrinha, como ela é chamada pelos moradores, no mês de maio e fizemos vários passeios com o tempo encoberto. No dia do trekking pelo platô, entretanto, fez um sol danado. Na outra estação, os dias são quentes e as cachoeiras convidam a um banho refrescante, atraindo muito mais gente à região. A temperatura média anual é de 26º C.
Como chegar:
A Serra do Tepequém, no Amajari (município que faz fronteira com a Venezuela), fica a 210 km de Boa Vista. A opção é voar até a capital roraimense e de lá seguir por estrada: considere alugar um carro, tomar o ônibus de linha que segue até a Vila de Tepequém ou, se estiver em grupo, fechar o passeio com uma agência ou apenas o serviço de transfer. Para quem sai de Manaus, há a opção de fazer todo o trajeto pela estrada (são cansativos 750 km de uma capital à outra e mais o trecho até o destino). Partindo de Boa Vista siga pela BR-174 sentido Venezuela e um pouco depois do quilômetro 100 pegue a estrada à esquerda, a RR 203. São pouco mais de 50 km para chegar à sede do município do Amajari e outros 50 km para chegar ao vilarejo no topo da Serra. Essa foi a nossa opção: saímos da capital amazonense às 7h de uma quarta-feira e 10h horas depois estávamos em Boa Vista. A estrada está em boas condições, sobretudo em Roraima. O trecho mais difícil é depois de Presidente Figueiredo e antes de chegar à reserva indígena Waimiri-Atroari, ainda no Amazonas, em virtude de muitos buracos na estrada. Apesar de disso, foi uma viagem tranquila e segura.
Transporte:
- Aéreo até Boa Vista (ida e volta) saindo de: Manaus (R$ 757/TAM), Brasília (R$ 682/GOL) e São Paulo (R$ 757/TAM).
- Ônibus de Manaus até Boa Vista (só um trecho): de R$ 220 a R$ 400 com a Amatur, a Asatur, a Caburaí ou a Eucatur.
Quem leva:
- NJ Turismo (linha até a Vila de Tepequém) – 95 99117-4672 / 99148-5001
- Makunaima Turismo (transfer e passeios na região) – 95 98111-7669
- Clézio Uber (transporte particular) – 95 98107-3101
Onde ficar:
- Estância Ecológica Sesc Tepequém: até R$ 487/diária (quarto duplo, com pensão completa);
- Pousada Platô do Tepequém: até R$ 300/diária (chalé duplo)
- Pousada Tepequém: até R$ 295/diária (chalé duplo)
- Pousada PSJ Tepequém: R$ 180/diária (quarto duplo)
O que levar:
- Roupas leves (se tiver camisas de manga longa e calça de tecido leve para caminhada, perfeito);
- Botas ou outro calçado para trekking;
- Sapatilhas multiesportivas;
- Bolsa de ataque (onde pode colocar alimentos para a caminhada, kit de primeiros socorros ou qualquer outro item que necessite);
- Cantil (hidrate-se sempre!)
- Repelente;
- Protetor solar;
- Chapéu ou viseira;
Guia/Condutor:
- Shâmara Saraiva – 95 98122-2396
- Thiago Sabino – 95 99126-8760
- Francisco Pereira – 95 98403-8548
* Imagens: Anderson Vasconcelos e Shâmara Saraiva
Ameiiiiiiiiii! Parabéns e quero ver muitas viagens por aqui viuuuuu. Peguei todas as dicas. 🤣🙏🏼😍