Programa de uma semana incluiu também visita a outros atrativos naturais do município.
A Cachoeira das Araras fica no Parque Ecológico de Iracema, acessível por uma trilha fácil.
Conhecida como a “terra das cachoeiras”, Presidente Figueiredo também pode ser chamada de terra das grutas, das trilhas, tantos são os atributos desse município amazonense gigante não só em área total (é maior que o Estado de Sergipe!), mas em belezas naturais. Localizado na Região Metropolitana de Manaus, a 107 km da capital, é a escapada perfeita para quem deseja curtir um de fim de semana em contato com a natureza, incluindo no “pacote” sol e água gelaaaaaaada. Tudo o que precisávamos para aproveitar uns dias de folga.
Fugindo da muvuca que geralmente ocorre em qualquer balneário aos sábados e domingos, Brasil afora, decidimos seguir para o destino numa terça-feira, para curtir com mais tranquilidade essas delícias do turismo ecológico no entorno da zona urbana do município, cujo nome é uma homenagem ao 1º presidente da província do Amazonas (João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha). Partindo do Centro de Manaus, a viagem leva 1h30 e é bem tranquila, pela BR 174, estrada que também liga a capital amazonense a Boa Vista, em Roraima.
Um problema no veículo de uma amiga nos impediu de pegar a estrada cedo, como planejávamos, mas não adiou nossa diversão. Deixamos Manaus pouco depois do almoço e chegamos ao município por volta das 14h. Já era tarde para perder mais tempo fazendo check-in na pousada que reservamos, na zona rural, 10 km distante do centro. Por isso, optamos por conhecer duas cachoeiras bem próximas à cidade, ainda na BR 174, e que não exigiam longas caminhadas.
Nossa primeira parada foi na Cachoeira de Iracema (das 8h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 8 anos), localizada no km 998 (antigo km 115), no lado esquerdo da pista, no sentido Boa Vista (RR). É uma das mais visitadas do município não somente por estar próxima da cidade, mas em virtude de sua infraestrutura – conta também com hotel dentro do Parque Ecológico. A entrada é bem sinalizada, mas para chegar até ela ainda é preciso vencer um ramal de 4 km de terra batida. Após parar no estacionamento, o visitante segue a pé por cerca de 10 min antes de contemplar uma queda d’água majestosa, em meio às rochas.
A atração do caminho são as grutas, como o Palácio do Galo da Serra, que além de renderem ótimas fotos, podem ser exploradas pelos mais curiosos (e corajosos). Numa rápida passagem por elas, é muito fácil “dar de cara” com morcegos. As fendas deixam a luz entrar e garantem um contraste com o escuro das cavernas. Seguindo pela trilha, o trecho final, até dar de “cara” com a queda d’água de 8 metros de altura, é feito em uma ponte de madeira, de onde Iracema já pode ser contemplada. A cachoeira é exuberante e, não à toa, quase todo mundo atravessa aquele curso sobre rochas, durante a vazante, com água até os joelhos (travessia simples, mas que exige cuidado) para ficar mais pertinho dela, e tomar uma massagem relaxante – eu, que não sou besta, aproveitei esse “toque” natural.
Nosso pequeno Moisés adorou a água gelada. Em alguns trechos, a leve correnteza convida a um mergulho revigorante, em jacuzzis esculpidas pela força da água. Há pontos também que servem como piscinas naturais. E se você quiser incluir um pouco mais de emoção ao passeio, há uma plataforma de madeira onde pode preparar seu melhor salto. Eu arrisquei dois!
Em frente à plataforma há um restaurante, caso precise “abastecer”. E depois dele, uma ponte de madeira marca o início de uma nova trilha, que leva à Cachoeira das Araras, ainda dentro do Parque Ecológico de Iracema. O caminho é bem sinalizado, passa ao lado das Grutas da Onça e Catedral e é fácil de ser vencido, a não ser por um único trecho em que é preciso disposição e atenção para subir uma rocha de mais de dois metros de altura. Por conta desse pedaço, não indicaria para quem tem pouca mobilidade. A trilha vai o tempo todo beirando o rio, em um belo visual.
Apesar de as placas marcarem a distância de 1 km entre elas, nós usamos um app para cravar: o percurso é de 1,6 km de caminhada e pode ser feito, sem correria, em 30 minutos. No caminho, encontramos cogumelos, teias de aranha imensas expostas nos paredões das grutas, mini abacaxis (ou abacaxi do mato) e borboletas vermelhas. Evite esse percurso depois das 16h. É que o tempo de ida e volta exige, pelo menos, uma hora, já quase perto do fechamento do balneário. Vá com calma e contemple as quedas d’água. Elas caem lado a lado, parceiras, como a ave que escolhe uma companhia por toda a vida.
Mergulhei na contemplação e só perdi a atenção por conta do lixo às margens da queda d’água: encontramos latas de cerveja, carteira de cigarros e resíduos plásticos, que certamente cairiam melhor se depositados nas lixeiras disponíveis ao longo de toda a trilha. Ou se retornassem com seus “donos”. Ainda bem que eu estava em boníssima companhia: Maik, meu companheiro nessa jornada chamada vida, e Taysa, amiga que o trabalho me deu, se encarregaram de depositar o lixo no lugar correto (precisa de tutorial para usar a lixeira?). Na saída do balneário, já no carro, avistamos um mutum, pássaro que dá nome a uma das cachoeiras que mais desejávamos conhecer. Um ótimo sinal para o início da aventura!
No dia seguinte o tempo fechou, mas não nos fez desanimar. Mesmo sob chuvisco, pegamos a estrada com intuito de conhecer as cachoeiras mais distantes, localizadas na AM 240, rodovia que liga a sede do município de Presidente Figueiredo à vila de Balbina. A primeira parada foi na Cachoeira da Pedra Furada (das 8h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 10 anos), no Km 57. Há uma placa de identificação logo na entrada. No local, você também pode já deixar reservado o almoço, caso queira fazer a refeição no local. É preciso seguir por mais 800 metros até o estacionamento. E de lá, por mais 200 metros em uma trilha fácil até chegar à queda d’água e entender o porquê do nome dela. É ótima para um banho revigorante e excelente para quem vai com crianças, pois forma uma piscina natural bem rasa.
Nem preciso dizer que o nosso Moisés, Zezé para os chegados, curtiu um bocado, depois de tirar uma soneca no cantinho mais seguro do mundo: o colo do pai. Sempre sobra pra gente! O menino resolve dormir bem no meio da aventura (outra vez ele tirou uma soneca quando estávamos bem nas piscinas naturais de Maragogi, em Alagoas, acreditam? mas, isso eu conto em outro post!). Depois que desperta, acaba a calmaria. Coisa de criança! Quem tem filho pequeno sabe do que estou falando.
De volta à estrada, agora no sentido contrário, retornamos até o Km 13, na altura da comunidade Marcos Freire, e pegamos mais 3 km de ramal de terra batida para conhecer a Cachoeira dos Pássaros (das 7h às 17h; R$ 10/pessoa, acima de 10 anos). O local tem boa infraestrutura para passar um dia relax, sem abrir mão de uma boa refeição (R$ 20 o churrasco e serve bem uma pessoa) e de aventura. É que além de um restaurante, o espaço conta com uma torre de tirolesa (só funciona aos fins de semana e feriados; R$ 5 o ingresso), com largada a 6 metros de altura e um percurso de 150 metros até a plataforma de aterrisagem. O balneário conta com duas pequenas quedas, a maior delas, de 2 metros de altura. Em alguns trechos, as rochas formam verdadeiras piscinas naturais, com leve correnteza. Apesar disso, nunca descuide, principalmente se tiver com criança. Ponto positivo para a rampa de acessibilidade que garante a circulação de cadeirantes em vários pontos do atrativo natural.
Depois do almoço seguimos, ainda na AM 240, para uma das mais conhecidas do município, a Cachoeira do Santuário (das 8h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 8 anos), no KM 12, que tem inclusive hospedagem, para quem preferir curtir a Reserva Ecológica por mais tempo. É uma das que tem melhor infraestrutura. Depois de passar pelo controle na entrada e chegar ao estacionamento, é preciso descer ainda uma trilha de 800 metros até ficar diante da imagem da Santa Clara, disposta entre as quedas. Uma boa oportunidade para contemplar e agradecer. A queda é alta e com volume. Não se arrisque por um clique. É possível fazer uma boa foto respeitando a sinalização e a natureza. Para chegar à área para banho, é preciso descer uma rampa de acesso e atravessar uma ponte. No local, há também uma plataforma para saltos e um espaço bom para um mergulho revigorante.
No dia seguinte, optamos por um programa "com emoção". Pegamos, mais uma vez, a estrada de Balbina até o Km 57, o mesmo da Pedra Furada, para explorar a Cachoeira Salto do Ypi (das 08h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 7 anos). A entrada da atração não tem identificação e o acesso fica numa propriedade privada, num trajeto de 3 km de caminhada com guia – Daniel dos Anjos (recomendadíssimo!) nos acompanhou em toda a jornada. Grande parte do percurso é sem dificuldades, em uma trilha fácil para caminhada, exceto pelos momentos de subida ou pela necessidade de superar alguns troncos caídos. Moisés, nosso pequeno aventureiro, fez quase todo o percurso ao chão – não recomendo para quem não curte andar! – e só precisou mesmo de ajuda (o colo do papai!) nos 300 metros finais, trecho de mata fechada e com dificuldades (em alguns pontos tem até cordas amarradas nos troncos, para ajudar na descida ou subida). O percurso pode tomar até mais que uma hora, dependendo do ritmo do visitante. Fizemos o trajeto em 39 minutos.
No trecho final, antes de perder totalmente o fôlego com a beleza da queda d’água, observamos uma espécie de “jardim de bromélias”, além de cogumelos alaranjados e borboletas azuis – a natureza em sua versão mais bela e intocada. A cachoeira tem mais de 30 metros de altura e impressiona pelo conjunto, cercada de verde e exibindo-se sobre rochas. Cada um de nós conseguiu relaxar sob aquela queda – que banho! A parte mais difícil é deixar o Ypi para trás (para mim, uma das melhores experiências dessa viagem!) e fazer o caminho de volta – que pode ser bem mais desgastante, afinal começa com a parte mais difícil do percurso. Com um detalhe: Zezé simplesmente decidiu dormir. Adivinha para quem sobrou?!
Quando o pequeno acordou já estávamos explorando outra cachoeira, cujo acesso tem o dobro da distância do Ypi, porém muito mais fácil de chegar. Trata-se da Cachoeira do Mutum (das 8h às 17h; R$ 15/pessoa, a partir de 10 anos), no km 56 da estrada de Balbina, uma das que eu mais desejava conhecer e que caiu como uma luva após uma caminhada desgastante como a anterior. Após a entrada, é preciso vencer 6 km de ramal de terra batida, só que de carro (ufa!) – a cada quilômetro uma placa disposta ao longo do percurso vai marcando a distância e mexendo com a expectativa. Depois é só fazer uma caminhada final de 200 metros, atravessar uma ponte e curtir as “jacuzzis” naturais. Elas não dão pé. O ideal é curtir mantendo a segurança e respeitando a natureza. Elas são muito convidativas para um dia, literalmente, de molho. Ô, se são! Aproveitamos à beça. A Cachoeira fica um pouco mais abaixo, porém eu não queria deixar a "minha" jacuzzi, com medo de perdê-la pra Luciana, outra amizade fruto do expediente diário de trabalho.
Na manhã seguinte, conhecemos a Cachoeira Berro d’Água (das 8h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 7 anos), no km 11 da estrada de Balbina, pouco antes do Santuário. Tem boa infraestrutura, hospedagem no local, para quem quiser aproveitar melhor o balneário, e até área para camping, para um contato maior com a natureza. O estacionamento fica bem próximo do atrativo, cuja queda d’água alimenta uma grande piscina natural. Antes de descer até o patamar da Cachoeira, reservamos o almoço. Nossa intenção ali era aproveitar o dia e foi exatamente o que fizemos. Moisés curtiu a piscina natural em uma boia amarela em formato de avião, enquanto nós curtimos um bocado aquela massagem relaxante.
E adivinha o que teve no último dia em Presidente Figueiredo? Cachoeiraaaaaaa! Como a volta para casa exigiria mais um período na estrada, optamos por uma bem pertinho da cidade: a Cachoeira da Onça (das 7h às 17h; R$ 10/pessoa, a partir de 7 anos), no Km 992 (antigo km 108). Após a parada no estacionamento, é preciso fazer uma caminhada de 1 km, em uma trilha bem definida e sinalizada. Foi a única em que notamos, inclusive, placas de identificação de algumas espécies de árvores da região. No meio do trajeto, é preciso atravessar uma ponte suspensa por cordas, chamada de Ponte da Felicidade. Ao longo do caminho, o visitante vai se deparando com pequenas quedas d’água, até se deparar com a principal. Dá para aproveitar bem se você for cedo. Saímos antes do almoço e, no caminho de volta, deparamos com muitos visitantes indo até o destino. Ao fim da trilha, uma placa faz o alerta: a Amazônia é nossa! Não há dúvidas. E pode ser de muito mais gente, se fizermos a nossa parte.
Nossa última parada antes do regresso, num domingo, foi a Cachoeira da Asframa (das 8h às 17h30; R$ 10/pessoa, a partir de 11 anos), no km 980 (antigo km 96) da BR 174 (a mais próxima de Manaus, entre essas que visitamos), uma das com melhor infraestrutura da região (tem restaurante, um play para crianças e acessibilidade – e uma cadeira de rodas disponível na entrada da rampa de acesso, caso o visitante necessite). Chamou atenção também a quantidade de borboletas em revoada, casando bem com aquele cenário verde e a queda d’água. Moisés decidiu fazer amizade no espaço kids (risos) e, depois do almoço, escolhemos um ponto bem tranquilo nas corredeiras. Ficamos ali, curtindo a água gelada e esperando aparecer a vontade de voltar para o nosso endereço. Figueiredo faz a gente se sentir em casa!
ANOTE AÍ!
Quando ir: Assim como Manaus, em Presidente Figueiredo faz calor o ano todo, com duas “estações” bem definidas: a chuvosa (dezembro a maio) e a seca (junho a novembro). Se prefere queda d’água com maior volume, viaje no 1º semestre; do contrário, visite a cidade no 2º semestre, pois nesse período as águas são mais calmas. No município, a temperatura média anual é de 27 °C (passa fácil dos 33 °C em alguns dias do ano) e umidade do ar elevada – considere isso ao fazer trilhas.
Como chegar: Se você prefere aventurar-se sozinho na região, considere pegar um ônibus intermunicipal até Presidente Figueiredo. Se for em grupo, saindo de Manaus, vale a pena optar por um transfer. A partir da capital amazonense, há agências que fazem bate-volta até o município, já incluindo alguns atrativos no passeio.
Transporte:
- Aéreo até Manaus (ida e volta) saindo de: São Paulo (R$ 757/TAM), Recife (R$ 657/Azul) e Brasília (R$ 682/GOL).
- Ônibus de Manaus até Presidente Figueiredo (só um trecho): R$ 30/Aruanã Transportes.
Quem leva:
- Figueiredo Turismo – 98468-2704 (R$ 130, individual; R$ 250, para duas pessoas)
- Iguanatur – 99452-4952 (R$ 270 a R$ 300/pessoa, incluso almoço, água e taxas)
*Os valores variam conforme o pacote ou a programação escolhida.
Onde ficar:
- Pousada Vivenda Fennix: R$ 180/diária (quarto casal com café da manhã)
- Local Hostel Figueiredo: R$ 153/diária (suíte premium para casal sem café da manhã)
- Isabela Hotel: R$ 120/diária (quarto duplo com café da manhã)
Guia/Condutor:
- Daniel dos Anjos – 92 99304-6213
- Leonardo Pimentel – 92 99215-2911
- Judeison Juju – 92 99359-0738
- Mário Sérgio - 92 98468-2704
Imagens: Anderson Vasconcelos, Maik Rodrigues e Taysa Roriz.
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